2008-03-30

Arqueologia em Revista em Beja

Foi ligeiramente superior a 40 o número de presenças no quarto evento do ciclo "A Arqueologia em Revista", realizado na tarde de ontem, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja.

As intervenções iniciais do Tema 1, "A Arqueologia e o Poder", estiveram a cargo de António Carlos Silva e Susana Correia, que reflectiram sobre a missão do Estado relativamente à Arqueologia e sobre a descentralização para a administração local.





























O tema 2, "A Arqueologia e os Arqueólogos", foi aberto por Miguel Martinho e Joaquim Carvalho, o primeiro dos quais partiu da experiência da EDIA para tecer considerações sobre a relação entre os promotores de obras e as prestações de serviços na área da Arqueologia, enquanto que o segundo se centrou preferencialmente no problema das microempresas e na necessidade de regulação do acesso à profissão e de união dos profissionais de Arqueologia.










































Por fim, como tem sido habitual nestes eventos, foi apresentado o N.º 15 da revista Al-Madan.


As fotografias são de Cézer Santos (CAA).

2008-03-28

A Arqueologia em Revista - Lisboa (Tema 1)

Embora com a captação de som algo prejudicada pela acústica da sala e pela realização, no exterior, das celebrações do Dia Nacional da Protecção Civil, divulga-se aqui o primeiro conjunto de vídeos do debate que iniciou o ciclo “A Arqueologia em Revista”, no passado dia 1 de Março, no Museu Nacional de Arqueologia.
Trata-se do registo das intervenções no Tema 1, “A Arqueologia e o Poder”, com introdução de Jacinta Bugalhão e António Carlos Valera, a que se seguiu um debate onde participaram também Luís Raposo, Paulo Alexandre Monteiro, Carlos Fabião, Maria Ramalho, Maria José Almeida, José Morais Arnaud, Miguel Almeida, Manuela de Deus e Suzana Pombo dos Santos.
A produção dos vídeos é da responsabilidade de uma equipa do Instituto Politécnico de Tomar, que assim se associou à organização desta iniciativa do Centro de Arqueologia de Almada.


1. Introdução (Jorge Raposo – CAA / Al-Madan)

http://br.youtube.com/watch?v=L2no-kcln3w


2. Jacinta Bugalhão

http://br.youtube.com/watch?v=pYBILPcav5U

– Contextualização da intervenção;
– O actual IGESPAR;
– O papel do IPA na evolução recente da Arqueologia portuguesa;
– O que se perdeu com a fusão IPA / IPPAR.

http://br.youtube.com/watch?v=3246Nuc_Rrc

– Os receios decorrentes do actual modelo do IGESPAR;
– O sistema Endovélico.

http://br.youtube.com/watch?v=loe76_bev_8

– A política editorial;
– A biblioteca e o arquivo histórico da Arqueologia portuguesa;
– A crise de crescimento disciplinar, as necessidades de formação e a clivagem geracional;
– As atribuições e competências da administração central


3. António Carlos Valera

http://br.youtube.com/watch?v=2IoL3e0asuI

– A correlação entre a valorização política e social da Arqueologia portuguesa;
– A rápida transformação da disciplina e o seu retorno social;
– O reducionismo patrimonial;
– Os malefícios da dicotomia público / privado.

http://br.youtube.com/watch?v=N8HZFk2XXjE

– O papel da administração pública na área da Arqueologia: a fiscalização, a gestão do Património arqueológico e a descentralização.


4. Debate: Luís Raposo

http://br.youtube.com/watch?v=TQ5Xv7QvZsE

– Arqueologia, Estado e Sociedade;
– O sentido positivo da crise de crescimento da disciplina;
– A falta de plataformas de ligação à sociedade civil;
– O papel do IPA e da legislação de avaliação de impactes ambientais no incremento da actividade arqueológica;
– O enquadramento da tutela da Arqueologia na administração do Estado: Cultura, Ambiente ou Ordenamento do Território?


5. Debate: Paulo Alexandre Monteiro

http://br.youtube.com/watch?v=s-windNAapE

– A formação académica e o emprego precário;
– A necessidade de acção fiscalizadora;
– A urgência de criação de uma Ordem dos arqueólogos.


6. Debate: Carlos Fabião

http://br.youtube.com/watch?v=KMwULfoP7Zk

– A esquizofrenia discursiva do poder político na área da Arqueologia;
– A conveniência de uma tutela de modelo semelhante ao do IPA, com reforço da capacidade fiscalizadora e transferência de outras competências para terceiros;
– A importância do arquivo histórico da Arqueologia portuguesa.


7. Debate: Maria Ramalho, António Carlos Valera e Maria José Almeida

http://br.youtube.com/watch?v=lNFSynqDzlI

Maria Ramalho:
– Arqueologia e Património;
– Acompanhamento arqueológico e investigação científica.

António Carlos Valera:
– Dicotomia público / privado;
– Arqueologia e sociedade civil: o retorno social;
– Arqueologia e Património

Maria José Almeida:
– O objecto e o agente da investigação arqueológica;
– O Estado enquanto interventor e gestor: a importância da gestão documental e do sistema Endovélico.


8. Debate: Jacinta Bugalhão e José Morais Arnaud

http://br.youtube.com/watch?v=Tlt6UVbB3vU

Jacinta Bugalhão:
– Arqueologia, produção de conhecimento e retorno social;
– Acompanhamento arqueológico, produção científica e salvaguarda do Património.

José Morais Arnaud:
– O papel do IPA no contexto das alterações legislativas provocadas pelas directivas comunitárias na área do Ambiente;
– Arqueologia preventiva e Arqueologia urbana.


9. Debate: Luís Raposo

http://br.youtube.com/watch?v=wJez9zAxALs

– A conjuntura portuguesa e o papel do IPA;
– Arqueologia, Património e produção do conhecimento;
– A Arqueologia e o Estado: a formação de excelência e a investigação científica “de ponta”;
– A biblioteca central da Arqueologia portuguesa.


10. Debate: Miguel Almeida

http://br.youtube.com/watch?v=Xx6Xpnsg738

– Arqueologia portuguesa: crescimento e perda de qualidade;
– O contexto legislativo e o papel do IPA;
– A formação académica e profissional;
– A posição da tutela na administração pública;
– Os perigos da descentralização;
– A separação de competências público / privado.


11. Debate: Miguel Almeida e Paulo Alexandre Monteiro

http://br.youtube.com/watch?v=qj6XsyA4Niw

Miguel Almeida:
– O Côa e os arqueólogos;
– Produção de conhecimento e intervenção cívica.

Paulo Alexandre Monteiro:
– Interesse público, interesse privado e processos de avaliação de impacte ambiental;
– Conhecimento científico e divulgação;
– As insuficiências da formação académica.


12. Debate: António Carlos Valera e Maria Ramalho

http://br.youtube.com/watch?v=uBMIKj__690

– Investigação científica e democracia participada;
– O papel dos arqueólogos na construção da sua valorização social;
– O enquadramento da tutela da Arqueologia portuguesa no contexto da transformação das fronteiras disciplinares e profissionais.


13. Debate: Manuela de Deus e Suzana Pombo dos Santos

http://br.youtube.com/watch?v=zd_Rn12RJc4

Manuela de Deus:
– O papel do Estado na valorização patrimonial.

Suzana Pombo dos Santos:
– A regulamentação da actividade arqueológica: a figura do acompanhamento.

2008-03-26

Há uma saída possível na colaboração inter-institucional entre Universidades e Empresas?

Estou longe de Portugal e apenas tenho podido seguir as últimas semanas da nossa Arqueologia por interposta pessoa ou, outras vezes, por interposto blogue. Nem isso desvanece o sentimento de preocupação instalado que antes já me fez referir aqui temas que me são tão urgentes como a qualificação dos arqueólogos e a falta de institucionalização — nomeadamente no que respeita a uma certa imaturidade técnica e ética — deste sector profissional (para não lhe chamar "classe"). Já o disse, estes problemas da qualificação e institucionalização são para mim os verdadeiros embaraços com que hoje nos enfrentamos e deveríamos encarar bem de frente.

Sendo, reconhecidamente (!), desde há muito um forte crítico das Universidades portuguesas e desde há quase dez anos um (talvez) ainda mais forte crítico das nossas empresas de Arqueologia — porque também se pode ser objectivo quando olhando para o próprio umbigo — não posso deixar de reconhecer numas e noutras o essencial da massa crítica que talvez permita a sobrevivência próxima da Arqueologia portuguesa enquanto disciplina científica. Pelo menos, há seguramente mais esperança nas Universidades e Empresas do que num estado central em erosão rápida ou numa putativa tutela regional ainda insuficientemente sedimentada, seja em número, seja em autonomia, seja mesmo em qualificação técnica. Com efeito, Universidades e empresas de Arqueologia parecem hoje inevitavelmente destinadas a trilhar juntas aquele que talvez seja o mais profícuo caminho da Arqueologia portuguesa dos anos vindouros. Mais, de toda a evidência, a próxima parte deste caminho far-se-á à revelia (senão mesmo APESAR!) da acção e orientações do Estado.

Do outro lado deste percurso, deverá provavelmente surgir uma Arqueologia autonomizada da tutela da Cultura, ambiente cada vez menos propício ao desenvolvimento completo de uma disciplina científica — emancipada por completo do diletantismo original ou condenada a finar-se — que se quer capaz de responder a uma só voz às duas solicitações que o social lhe dirige:
- uma, a da gestão do território e salvaguarda do património (material e imaterial) histórico-arqueológico;
- outra, a do desenvolvimento do conhecimento científico; e,
- finalmente, a partir destas ambas, a devolução à sociedade de produtos de divulgação generalizada, estes sim já do âmbito da fruição cultural.

E porque empreenderiam Universidades instaladas e empresas balbuciantes um tal projecto comum que, desde logo dada a diferença de idades dos contraentes, tanto parece assemelhar-se a um casamento de interesse, um pouco contra-natura?
À primeira vista, poder-se-ia ver aqui apenas uma atitude de conveniência, uma reacção de sobrevivência.
Penso, porém, que talvez existam sentimentos mais profundos!

Do ponto de vista (de uma parte) das empresas portuguesas de Arqueologia, é certo que esta aproximação se vem tornando uma questão vital.
Por razões de diversa ordem:
- sem dúvida, porque o contacto prévio com jovens estudantes permitirá a essas empresas alargar o seu universo possível de recrutamento com base em critérios mais objectivos de qualificação e competência;
- sem dúvida porque sem esta colaboração inter-institucional não poderá garantir-se a exploração cabal do espólio e informação arqueológica de que essas empresas são hoje fieis depositárias;
- mas também porque o aumento subsequente da sua própria massa crítica com o influxo de conhecimentos resultante destes contactos e a participação activa em projectos de investigação fundamental são hoje parte decisiva da estratégia de afirmação social destas empresas (e, já agora, da própria Arqueologia portuguesa).

Do ponto de vista das Universidades, que surgem cada vez mais sensíveis e mesmo decisivamente empenhadas nesta aproximação, as vantagens não são menos importantes. Naturalmente — e é isso que torna o movimento possível —, os seus objectivos são correlativos e complementares dos das empresas:
- antes de mais, de modo muito simples e directo, a empregabilidade dos seus estudantes, actualmente condição objectiva de sucesso no imediato;
- depois, o acesso a colecções dotadas de informação contextual e procedentes de intervenções arqueológicas recentes, sem as quais será progressivamente mais difícil defender a qualidade do ensino numa área tão sensível à prática como a Arqueologia;
- ainda a possibilidade de captação de fontes financiamento, seja de forma directa ou indirecta, e de que beneficiarão os seus projectos científicos ou os seus alunos; e, finalmente,
- porque não admiti-lo também, a vantagem do contacto com um meio em que a produção e utilização do conhecimento em unidades independentes de I&D se faz de um modo muito ágil e elástico — Claro, isto porque penso que é para unidades deste tipo que penso que devemos fazer evoluir as nossas empresas de Arqueologia (!!!); de resto, nem se trata de um movimento particularmente original: vejam-se os sectores da farmácia, da informática, etc.

Mas os benefícios desta cooperação inter-institucional não se esgotam ainda em vantagens das Empresas e das Universidades.
Assim de repente:
- do ponto de vista dos alunos, o acesso facilitado aos empregadores potenciais, a experiência pré-profissional; e
- do ponto de vista do Estado, o aprofundamento do conhecimento científico e da salvaguarda útil do património histórico-arqueológico, o reforço do tecido empresarial, o aumento da participação social das Universidades, o desenvolvimento técnico, científico e económico do sector, etc.

Obviamente, as modalidades desta cooperação estão já contidas nos objectivos descritos para cada um dos interlocutores: colaboração pedagógica a diferentes níveis; enquadramento técnico, científico e profissional dos formandos; acolhimento de alunos em meio empresarial; partilha de projectos de investigação fundamental e de investigação aplicada em Arqueologia; projectos de divulgação científica; financiamento de mérito académico; mecenato científico.

Porém, este seria um mundo idílico se não devêssemos também reflectir acerca das condições necessárias para a realização deste caminho a partilhar entre Universidades e Empresas.
Refiram-se, de forma seca e muito directa, apenas as três fundamentais: reconhecimento mútuo, abertura das Universidades e Institucionalização das Empresas.

E como estamos de realização actual destas três condições indispensáveis?
A minha percepção pessoal é de que estaremos talvez ainda no início, mas já decisivamente a caminho.
A progressiva abertura da Universidade é em Portugal um fenómeno evidente, que tem no campo específico da Arqueologia uma explicação dúplice:
- por um lado, esta abertura constitui hoje praticamente condição de sobrevivência dos organismos universitários (a avaliação de centros universitários de I&D e o espírito voluntarista de Bolonha, fomentando a mobilidade curricular e inter-universitária, assim o determinam);
- por outro lado, não pode deixar de admitir-se que só agora e ainda assim de forma bastante hesitante surgem unidades empresariais decididas a (e capazes de!) suportar este esforço de colaboração.

Penso, contudo, que o maior risco de falhanço desta aventura estará do lado das empresas, mais jovens, quiçá mais emotivas, mas seguramente menos constantes e resistentes.
Como disse, é ainda muito escasso o número de empresas com estrutura institucional e massa crítica suficiente para responder a um desafio tão exigente.
Compreenda-se: este desafio implica dimensão institucional para receber e enquadrar os formandos; mas também capacidade económica para suportar os custos da sua formação e os custos dos projectos de investigação a desenvolver em colaboração; mas também capacidade científica para co-dirigir estes projectos e co-orientar cientificamente os formandos.
Uma perspectiva rápida sobre o panorama geral actual das empresas portuguesas de Arqueologia não deixará de revelar uma fotografia bastante preocupante quanto ao número de unidades empresariais com capacidade ou sequer com vontade de garantir estes índices de institucionalização, capacidade científica e investimento em formação e I&D.

Não obstante, penso que não existe outra alternativa senão obrigar as ditas empresas de Arqueologia a dar o salto em frente que lhes permita responder afirmativamente ao desafio que lhes lança o momento actual.
E só há um método para fazê-lo: exigir qualidade, sancionando simultaneamente as falhas, técnicas e éticas.
Repito uma ideia recorrente: existe ainda uma diversidade talvez excessiva da qualidade dos trabalhos (e das empresas!) de Arqueologia preventiva / de emergência em Portugal.
A tendência de futuro não poderá deixar de ser no sentido da redução desta diversidade, de resto, tal como nos ensinam experiências semelhantes (e nefastas) noutros países.
Cumpre-nos a nós todos impedir que um mercado desregrado seleccione organismos empresariais menos capazes e menos qualificados, em desfavor de empresas mais preocupadas com a qualificação técnica dos seus trabalhos e a produção de conhecimento.

Actualmente, a aproximação entre Universidades e empresas de Arqueologia não passou ainda das intenções.
O transcurso do tempo dirá se destas intenções mais ou menos manifestas resultaram apenas alguns arrufos inconsequentes ou, pelo contrário, relações mais duradouras e frutuosas.
Como no amor, estas não dependem apenas da boa vontade inicial dos pombinhos, mas sobretudo da sua capacidade de cedência mútua e da partilha de projectos comuns... Ah, e já agora, dependem também bastante da envolvência social dos parzinhos de apaixonados.

2008-03-20

Mais sinais dos tempos...

Foz Côa: trabalhadores de luto

2008/03/20 12:05AAS

Trabalhadores do Parque Arqueológico protestam contra precariedade

Os trabalhadores do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), sedeado em Vila Nova de Foz Côa, efectuam esta quinta-feira uma acção de protesto simbólica, pela defesa dos direitos laborais e contra a precariedade de emprego, escreve a agência Lusa.
A acção convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Centro (STFPC), consiste no uso de camisolas negras, durante o horário de trabalho, com a inscrição «Os trabalhadores estão de luto e em luta».
«Estamos todos a trabalhar normalmente, só que estamos a vestir camisolas negras devido a uma série de medidas legislativas que estão a preocupar os trabalhadores», disse Pedro Branquinho, funcionário do PAVC e dirigente sindical do STFPC.
Os trabalhadores do PAVC estão descontentes pela «continuação da situação de indefinição» de cinco arqueólogos avençados que estão ao serviço, referiu o dirigente sindical. «Depois de terem sido informados da sua dispensa no final do ano passado, estes trabalhadores viram, entretanto, os seus contratos renovados por mais um ano. A resolução da sua situação laboral foi simplesmente adiada, mantendo-se sem qualquer informação ou esperança em verem a sua situação regularizada», denunciou.
Pedro Branquinho acrescentou que a jornada também contesta «o congelamento das carreiras e escalões e a impossibilidade de negociação de carreiras adaptadas às funções exercidas pelos guias intérpretes do PAVC». Os trabalhadores também lutam contra o eventual despedimento de cinco funcionários da limpeza, «que vêem os seus serviços dispensados após mais de dez anos de serviço, trocados pela contratação de uma empresa externa», afirmou.
O dirigente social espera que os responsáveis pela tutela do PAVC tenham em conta as reivindicações dos trabalhadores, pois caso a situação se mantenha, poderão ocorrer novos protestos ao longo do ano. «Estamos a pensar, se isto não se alterar, repetir o dia de luto em datas que assinalaremos posteriormente, para recordar o que foi publicado e o que está para acontecer», referiu.


(da comunicação social...)

2008-03-19

Bem a propósito...


Apesar de algumas imprecisões, a população do Escoural tem certamente razões para estar descontente... Afinal para além dos problemas com os serviços de saúde, de segurança pública, de ensino, o "povo" também se pode interessar pelos problemas do património e da cultura. O caso do Escoural, apesar de especialmente problemático dadas as circunstâncias, a natureza e a fragilidade dos valores patrimoniais em causa, não deixa de ser paradigmático da situação a que se chegou, 34 anos de pois do 25 de Abril e 28 após a criação do IPPC (Instituto Português do Património Cultural).

2008-03-18

Ainda as funções do Estado



Há alguns dias em texto colocado neste “blogue” (pelos vistos, demasiado longo…) discorri sobre as funções do Estado que, em matéria de salvaguarda do património arqueológico, me pareciam inalienáveis, mesmo num contexto sociopolítico neo-liberal. Obviamente, partindo do princípio, que as leis da República e as convenções internacionais assumidas pelo Estado, enquanto não forem revogadas, são para cumprir…


Posteriormente o Luis Raposo veio afirmar que eu continuo prisioneiro da assimilação excessiva entre “Estado” e “Cultura”… Devo ter-me explicado mal, já que está de facto muito longe daquilo que penso, confundir a parte (Ministério da Cultura) com o todo. Pretendi naquele texto fazer um inventário daquelas atribuições ou tarefas que decorrendo das competências de "soberania" próprias do Estado, de defesa do interesse público ou de conciliação de interesses ou valores contraditórios, só podem mesmo ser exercidas no âmbito de instituições públicas. É verdade que lhes acrescentei algumas (apoio à investigação, valorização dos bens móveis ou imóveis) que, obviamente, podem e devem ser partilhadas com a sociedade civil mas que, dada a sua natureza pouco lucrativa, não conseguem ainda sobreviver sem um mínimo de apoio desse mesmo Estado.


Ora, em lado nenhum defendi que essas competências (que nem são muitas, afinal…) devam ficar na Cultura. Aliás, olhando para a recente reestruturação do Ministério e, em particular, para o que tem sido a prática dos serviços nos últimos tempos, verificamos que o Ministério da Cultura praticamente já alienou algumas dessas atribuições sem que se perspective (e isso é que é grave e deverá ser denunciado) quem as virá a assumir. Veja-se, por exemplo, o que se tem passado com o impropriamente designado Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos, actualmente sem qualquer perspectiva futura, para além do cumprimento de alguns compromissos herdados. Veja-se, por fim o que se está a passar com a gestão (?) dos sítios arqueológicos adquiridos pelo Estado por razões de salvaguarda…

2008-03-16

Arqueologia em Revista em Faro

Um pouco mais de 40 pessoas participaram no terceiro evento do ciclo "A Arqueologia em Revista", realizado na tarde de ontem, no Museu Municipal de Faro.

O Tema 1, "A Arqueologia e o Poder", foi introduzido por Rui Parreira e Miguel Lago, que defenderam um Estado normalizador e fiscalizador, mas aberto à descentralização e às políticas de valorização social, de promoção da cultura científica e de maior ligação à "sociedade civil".




















No tema 2, "A Arqueologia e os Arqueólogos", as intervenções iniciais foram de Nuno Ferreira Bicho e Dália Paulo, que destacaram o papel que poderá vir a ser desempenhado por uma eventual Ordem dos Arqueólogos e a sua relação com a formação académica e profissional.

































Por fim, foi apresentado o N.º 15 da revista "Al-Madan", num momento que contou com a participação de Augusto Miranda, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Faro.


As fotografias são de Cézer Santos (CAA)

2008-03-13

Duas precisões necessárias

Lidos os últimos contributos muito estimulantes do ACS e MA, entendo dever acrescentar algo mais ao que já escrevi antes neste blogue. Procurarei ser breve, conforme nos pede o anónimo que comenta um referidos dos textos.

Sociologia da profissão. Concordo com o MA, retomando aliás observação do ACS feita dias antes, que existe de facto um inquietante fosso geracional dentro da profissão de arqueólogo. Mas contrariamente ao MA penso que tal fosso é basicamente de natureza sociológica e não científica. Julgo também que é comum ao todo da sociedade portuguesa e estou em crer que se se fizesse a mesma pergunta a outros domínio profissionais, suportados em formações e saberes académicos e científicos, se encontraria a mesma situação, em maior ou menor grau. Os mestres da física, da química, da geologia, de geografia, etc. estão a reforçar-se, ou reformaram-se já, e os laboratórios e empresas vivem de jovens, submetidos a condições da mais extrema precariedade. E não julgo que ela seja menor do que a dos arqueólogos, que na sua grande maioria hoje trabalham enquadrados por projectos de “arqueologia sob contrato”. Aproveito para dizer que, ao contrário do ACS, creio que esta arqueologia atingiu já um mínimo de maturidade, pós-Côa, capaz de se auto-sustentar, até porque começa a ser comum ouvir-se dizer “cuidado com os arqueólogos” ou “façam já antes as sondagens e escavações necessárias” nos mais variados projectos que requerem legalmente algum tipo de avaliação ou acompanhamento arqueológico.
Decorre deste fosso geracional sociológico que não existem condições para que a profissão assuma em plenitude as suas responsabilidades sociais ? Penso que não. A menos que defendamos alguma espécie de mortificação especial para os arqueólogos.
Venha, pois, a Ordem, sendo evidentemente que ela não resolverá todos os problemas (desde logo não resolverá os problemas de natureza sindical). Será autoritária ? Será aquilo que quisermos que seja; provavelmente nem melhor, nem pior do que outras Ordens, algumas com tantas décadas e ultimamente tão agitadas internamente.

Papel do Estado na Arqueologia. Existe um equívoco fundamental na forma como o ACS aprecia a minha posição nesta matéria. É que ele continua prisioneiro da assimilação excessiva entre “Estado” e “Cultura”. Também eu penso que o Estado deve promover a investigação fundamental em arqueologia; mas não através da Cultura. Também eu penso que o Estado deve dar o exemplo na formação académica e se possível profissional; mas não através da Cultura. Também eu penso que o Estado deve ser exigente na planificação e uso do território (o mais finito dos bens, logo depois do tempo); mas não através da Cultura. Etc., etc. Aceito que, no quadro actual e talvez sempre, enquanto possamos antecipar, o centro de gravidade coordenador das políticas da Arqueologia esteja na Cultura. Para o efeito torna-se essencial e existência de um organismo de consulta credível e representativo como sempre defendi ser um Conselho Superior de Arqueologia. Aceito e defendo que a Cultura, no quadro actual, dê sinais, quer dizer, estimule, o desenvolvimento da arqueologia, mesmo em vertentes que lhe não dizem exclusivamente respeito. Dou dois exemplos: para apoio à investigação, a Cultura deve organizar e co-financiar um Plano Plurianual de Trabalhos de Campo, como já fez no passado, dando primazia aos projectos que revistam duplamente interesse científico e patrimonial. Para apoio ao desenvolvimento experimental de novas metodologias na área da Arqueociências, a Cultura deve estabelecer protocolos de apoio financeiro aos centros de investigação universitários que a tal se queiram candidatar.
Mas não se confunda “proporcionar que se faça” com “fazer”. Fazer mesmo, a Cultura o que tem de fazer é promover democraticamente (isto é, com a participação da chama “sociedade civil”) a legislação necessária; manter e actualizar em permanência os inventários patrimoniais; enquanto lhe couber, assegurar a fiscalização do território e da actividade arqueológica; e gerir os bens à sua guarda directa (imóveis ou móveis, guardados estes em museus). Há-de seguramente faltar-me algo mais, porque escrevo estas linhas ao correr da pena, como é próprio do meio comunicacional que uso. Duvido, porém, que sejam aspectos realmente importantes.
O ACS, que me conhece tão bem, sabe quem não sou liberal, que não defendo a retirada do Estado das suas funções sociais. Mas não vejo razão para que o Estado se deva comportar de forma autocrática, como tem sido crescentemente o caso; nem tão-pouco vejo vantagem em que nos resignemos ao afunilamento excessivo da arqueologia na Cultura, dentro do Estado. Não penso assim de hoje, nem de ontem. Os acontecimentos mais recentes, com o desmantelamento da estrutura operacional da Cultura, até ser atingido o actual non-sense, parecem dar-me, e dão-me, razão. Mas o meu ponto de vista é outro, mais estratégico: a organização do Estado deve servir e potenciar o desenvolvimento social; ora, hoje mais do que nunca, a arqueologia e os arqueólogos já não estão da Cultura; nem sequer dependem da Cultura, que deixou definitivamente de preencher as suas conversas do dia-a-dia. E é bom que o Estado entenda isto. Se torne mais democrático e se regorgnize.

2008-03-11

O papel do Estado e a Arqueologia

O Luis Raposo, em recente contributo inserido neste Blogue, fez alguns comentários sobre a Arqueologia e o papel do Estado (mais concretamente do Ministério da Cultura) que, me pareceram algo redutores e que merecem por isso algum contraponto, esperando assim provocar outros contributos ou comentários. Com efeito, partindo da verificação do inegável desenvolvimento da chamada “Arqueologia de Contrato” (estimulado pelos elucidativos gráficos da Jacinta Bugalhão reproduzidos neste mesmo Blogue) o Luis Raposo conclui:
“De resto, o maior êxito do IPA, na minha avaliação, está precisamente em ter facilitado que se tivesse desenvolvido um quadro profissional e social da arqueologia que o transcende e tem condições de continuar a existir, mesmo sem IPA ou até mesmo sem grande peso da arqueologia dentro do Ministério da Cultura em geral (podendo até conceber-se o dia em que as funções de fiscalização de impactes ambientais em arqueologia possam ser garantidas por organismos na área do Ambiente). Retomo aqui uma velha afirmação minha: quanto mais a arqueologia (como ciência e como actividade profissional) se libertar da Cultura, melhor.”

Não quero nem seria capaz de entrar na análise concreta e objectiva da situação do “quadro profissional e social da arqueologia” que hoje se faz em Portugal, análise que merecia já um estudo feito por profissionais externos à própria actividade (sociólogos? economistas?). No entanto, em resultado da minha experiência mais recente de contacto com esta realidade, parece-me que o tal “desenvolvimento” só com muito boa vontade se poderá considerar “consolidado” e que a “Arqueologia”, nomeadamente a “preventiva”, passado o efeito catalizador do “Côa”, está muito longe de representar uma necessidade social e cultural, claramente assumida pela comunidade. Mas esse tema (Arqueologia e Sociedade…) fica para outra ocasião. Hoje, ainda que de forma esquemática, gostaria de reflectir sobre as “funções mínimas” do Estado (aos seus diferentes níveis) para cumprimento das suas obrigações de salvaguarda do “património arqueológico”, enquanto recurso material “difuso”, finito e não renovável, mas essencial para a construção de um conhecimento que é condição “sine qua non” da nossa existência enquanto seres sociais... Isto, partindo do pressuposto constitucional de que a salvaguarda do património é (ainda) uma responsabilidade colectiva a assumir pelo Estado.

0. Funções legislativas_ desde logo, a função básica e que, exige que o Estado disponha de um mínimo de assessoria especializada, ainda que dispersa por diferentes organismos, capaz de informar os políticos nesta matéria essencial. E atenção: se os instrumentos de enquadramento geral existem, por vezes por força dos regulamentos comunitários, nomeadamente no que respeita à “minimização de impactes”, “planeamento territorial” e “serventias administrativas”, já ao nível da respectiva regulamentação, mesmo da mais elementar, muito há ainda a fazer. Num contexto de funcionamento normal da justiça, sou obrigado a admitir que boa parte da actividade que alimenta a “arqueologia de contrato” teria alguma dificuldade em resistir a uma eventual contestação dos promotores...

1. Arqueologia Preventiva_ é neste sector, envolvendo a “avaliação de impactes”, o licenciamento nas “servidões patrimoniais”, e o planeamento e ordenamento do território, que se concentra hoje a esmagadora maioria da “arqueologia de contrato”. A existência de uma “tutela” do Estado não decorre apenas da necessidade da “regulação” e “fiscalização” duma actividade especializada que é feita quase exclusivamente por “privados” que concorrem entre si, mesmo quando estão em causa obras ou projectos promovidos pelo próprio Estado. Num domínio carregado de “surpresas” (a descoberta faz parte da definição da própria Arqueologia) e amplas “subjectividades”, é ao “Estado” através de “pareceres técnicos vinculativos” que compete determinar, caso a caso (e não casuisticamente…), o âmbito das condicionantes preventivas ou minimizadoras a serem consideradas. Mas, obviamente, a “arqueologia preventiva” não é um fim em si e há que justificar socialmente os custos assumidos pelos particulares. A manutenção de “bases de dados territoriais”, o enriquecimento de “arquivos documentais” e de “reservas arqueológicas” acessíveis à investigação acaba por ser o “produto” material da actividade arqueológica de rotina já que as grandes descobertas, envolvendo níveis de decisão excepcionais, vão sendo raras. Ora, compete ao Estado, embora podendo partilhar essa missão com terceiros, a par da regulação, do licenciamento e fiscalização da actividade, promover e manter esses instrumentos técnico-científicos, estejam eles na dependência do Ministério da Cultura ou nos do Ambiente ou Território, como acontece nalguns países...

2. A investigação_ Acontece que as obrigações do Estado não podem terminar na imposição a “terceiros” de condicionantes arqueológicas (o tal princípio do “poluidor-pagador”). Compete ao Estado, eventualmente através dos organismos de gestão do Ensino Superior e da Investigação, mas também através do Ministério da Cultura, promover a formação e a investigação nestas áreas, ainda que essa promoção ou apoio, possa tomar formas ou recorrer a instrumentos diversos. Sem um mínimo de investimento público em “investigação arqueológica” é absolutamente contraditório se não mesmo injusto e falacioso, impor “condicionantes arqueológicas” aos privados. Na esmagadora maioria dos casos, a informação resultante da “arqueologia preventiva”, só faz sentido e é útil socialmente, se disponibilizada e reprocessada no âmbito de “projectos de investigação”, académicos ou outros. E, como se sabe, apenas excepcionalmente se consegue dos promotores um comprometimento que vá além da mera remoção dos impedimentos ou obstáculos que prejudicam o prosseguimento da obra…
3. A valorização_ Entendendo, neste caso, a “valorização” como a gestão (conservação e musealização) dos bens arqueológicos móveis e imóveis, com vista à sua fruição cultural pelo público, será possível que esta se reduza a uma lógica meramente mercantilista que resolva os problemas decorrentes de uma “Administração Pública” hoje demonizada enquanto gestora? Isto é, ao conceito do “poluidor-pagador”, contrapor-se-ia o do “consumidor-pagador” e, nesse caso, nada como uma gestão privada para combater o desperdício e fazer gerar receitas? Ora, apesar dos graves problemas de financiamento, não parece que (por enquanto) se ponha em causa a existência dos Museus Nacionais, ainda que seja possível questionar o respectivo “mapa”… Por outro lado, a Administração Local, continua a apostar, nem sempre de forma racional, nos Museus Municipais ou Locais. Já no que respeita aos sítios e monumentos, a situação parece diferente. Apesar da forte aposta do exIPPAR na “musealização” de sítios e monumentos, não é clara a posição da actual Administração da Cultura relativamente aos gravíssimos problemas de gestão que aqueles apresentam, estando muitos encerrados ao público. Haverá lugar para a “gestão pública” desses monumentos? Ainda que não me repugnasse um modelo de gestão privada por concessão, já sugerido como uma área de negócio possível para as “empresas de arqueologia”, há que ser realista e cauteloso na perspectivação de um tal modelo. Raros seriam os sítios arqueológicos que, no cômputo dos custos de exploração (incluindo obrigatoriamente a respectiva conservação) com as receitas poderiam autofinanciar-se. Com efeito, independentemente do modelo de gestão dos sítios e dos monumentos arqueológicos (públicos), está em causa saber se o Estado se deve responsabilizar pelos custos que a sua conservação implica, sabendo que por mais eficaz que seja a sua “exploração” esta tem condicionantes que impedirão em qualquer caso o respectivo equilíbrio financeiro. Ainda que a resposta pareça evidente, alguns indícios recentes parecem apontar em sentido inverso. Por exemplo, a não listagem nos sítios e monumentos a afectar à Direcção Regional de Cultura do Alentejo, de estações arqueológicas (propriedade do Estado), como a Gruta do Escoural, o Monte da Tumba, Torre de Palma, Mesa dos Castelinhos, Castro da Cola, etc…, terá sido apenas um lapso?

Estabelecido aquilo que considero o quadro mínimo das obrigações ou funções do Estado relativamente ao Património Arqueológico, importa avaliar se o “modelo” ou a “estrutura” funcional decorrente da recente reestruturação dos serviços do Ministério da Cultura, conseguirá responder a essas necessidades mínimas. Mas, esse assunto pode ficar para depois…

Autoridade fundadora ou fundação autoritária

"Há muito mais jovens, do que "meia-idade" (?) e Kotas (no sentido africano: mais velho, ancião, sábio...)." (Jacinta dixit).

Eis um ponto fundamental, mas raramente referido: a desproporção enorme entre os tais "kotas", raros, e a multidão de jovens arqueólogos.
Evidentemente, a existência de elementos mais experientes, como diz a Jacinta, "no activo" é um factor decisivo de transmissão de um conjunto de princípios estruturantes da actividade, quer ao nível técnico, quer talvez até sobretudo ao nível deontológico, sob a forma de "auctoritas" reconhecida por todos.

Sem um mecanismo deste género, um sector profissional perde a sua cadeia de transmissão dos tais princípios e, por isso, perde a profundidade histórica indispensável para dar o tal salto de maturidade que todos desejamos.
Evidentemente, para fazer a ligação com o muy discutido tema da criação da Ordem, reside aqui uma das maiores dificuldades de instituição de uma estrutura associativa de cariz profissional com capacidade disciplinar: recordo das minhas perdidas aulas de Direito romano que nenhum edifício normativo pode sustentar-se apenas numa "potestas" (num poder), antes necessitando da tal imagem de autoridade, socialmente reconhecida. É esta que precisamente falta na Arqueologia nacional e, por conseguinte, (entre outras dificuldades) impede a criação imediata da dita Ordem.
Ou seja: a Ordem é uma estrutura RECONHECIDA pelo estado, que INSTITUCIONALIZA um ordenamento, mas NÃO CRIA ESTE ORDENAMENTO, que tem que lhe ser precedente e consiste na sua razão de ser.

No nosso caso, a questão é ainda mais complicada: não apenas esta cadeia de transmissão se quebrou, mas os tais princípios nunca verdadeiramente existiram, na medida em que as alterações produzidas na Arqueologia nos anos 90 foram de tal modo importantes e bruscas que criaram uma situação completamente distinta da realidade anterior da actividade arqueológica em Portugal, ultrapassando por completo a reflexão anterior sobre este problema e exigindo a criação ab initio de normativos deontológicos e procedimentos metodológicos inéditos.

No que respeita aos normativos deontológicos este longo trabalho de sapa foi assumido pelo grupo que criou a APA, liderado pelo António Silva, cuja reacção rápida a uma mudança fundamental que então ainda apenas se adivinhava lhes permitiu lançar as bases elementares desta reflexão. Entre outras inicitivas, a produção do Código deontológico da APA foi o mais decisivo dos momentos e não tenho quaisquer dúvidas de que se um dia chegar a constituir-se uma ordem (ou algo do género, também partilho da aversão epidérmica ao anacronismo da "Ordem") este documento jogará um papel decisivo na sua estrutura normativa.
Penso, portanto, que urge difundir e discutir alargadamente este documento que, a par de muitas virtudes potenciais, conta um defeito importante no desconhecimento generalizado que dele têm os arqueólogos em geral (porque, evidentemente, não goza da dita "auctoritas").

Já no que respeita ao estabelecimento de procedimentos técnicos o caminho me parece ainda mais longo e espinhoso.
É resultado disto a completa ausência de regulamentação específica relativamente aos procedimentos técnicos mínimos ou sequer à sua tipificação mesmo nos regulamentos resultantes do momento político favorável de meados da década de 90. Ao contrário do que sucede noutros casos europeus.
Isto, claro, sem que se esqueçam algumas iniciativas louváveis, mas mais ou menos avulsas. Entre estas, mais uma vez contamos impulsos tentados pela APA, quer ainda durante a primeira direcção, quer já na vigência de direcções mais recentes e da actual.
Boas intenções, que não nos devem fazer iludir a questão fundamental: não existe hoje nem na APA, nem em nenhuma outra estrutura da Arqueologia portuguesa massa crítica bastante para nos conduzir nesta "viagem".

2008-03-09

Arqueologia em Revista no Porto



Cerca de 60 pessoas participaram no conjunto das sessões do segundo debate do ciclo "A Arqueologia em Revista", realizado ontem, dia 8 de Março, no Porto (Palacete dos Viscondes de Balsemão).



A introdução ao primeiro tema, "A Arqueologia e o Poder", esteve a cargo de Paulo Costa Pinto e Lino Tavares Dias. Esteve em evidência o exercício da Arqueologia na administração local.

























No tema 2, "A Arqueologia e os Arqueólogos", as intervenções iniciais foram de Alexandra Cerveira Lima e de Paulo Amaral. No debate, voltaram a estar em foco as condições de instituição de uma Ordem dos Arqueólogos.























Por fim, o tema 3, "A Arqueologia e a Sociedade", foi aberto por António Manuel Silva, Miguel Almeida e Luís Fontes.























A terminar, decorreu a apresentação no Norte do país do N.º 15 da revista Al-Madan.




As fotografias são de Cézer Santos (CAA)