2008-05-31

Ainda a parte e o todo na Arqueologia portuguesa

O Miguel tem toda a razão com a mensagem sobre a parte e o todo da Arqueologia portuguesa (e não é a primeira vez que o faz com a profundidade e sensatez notadas por um dos seus leitores).
De facto, embora sejam geralmente amplificadas as situações negativas e prolifere a conversa de “escárnio e mal dizer” (com ou sem fundamentação), a verdade é que todos também conhecemos boas práticas, quer na área da interacção com as populações e da divulgação para o grande público, quer na investigação e divulgação científica, na conservação e valorização de sítios, na documentação e preservação de espólios, etc.
E não apenas de agora! Quem explore com objectividade e imparcialidade o percurso da disciplina e dos seus protagonistas (e não falo apenas dos “barões” e “baronesas”), principalmente nas últimas décadas, encontra certamente exemplos, e não tão poucos como isso. Simplesmente, não temos o hábito de os reconhecer em público (e, por vezes, nem em privado!).

Mas, para que consigamos “discriminar criticamente” e promover as “práticas positivas” de que fala o Miguel, para além de saber destrinçar cada “árvore” da “floresta”, precisamos também evitar cair na dicotomia maniqueísta entre boas e más “árvores”, entre “santos” e “pecadores” da prática arqueológica, como se sobre alguns de nós incidisse o sol radioso de um passado e presente sem mácula, e sobre outros recaísse o opróbrio da sistemática e irreparável má conduta.
Com raríssimas excepções, mesmo os muito bons profissionais terão tido os seus maus momentos, quer no plano estritamente profissional, quer no da interacção social, enquanto que os maus profissionais raramente o terão sido sempre.
É por isso que a erradicação das más práticas não pode ser sinónimo de perseguição pessoal, mesmo que não deixemos de “chamar os bois pelos nomes”, sem olhar a estatutos pessoais e contextos institucionais.

Só com frontalidade, mas no exercício um direito de crítica tão judicioso quanto ponderado, conseguiremos promover a qualidade e a valorização social da Arqueologia no contexto de um processo que, simultaneamente, fortaleça as “árvores” e a biodiversidade da “floresta”. E que proteja ambas do “fogo” de que fala o Paulo Monteiro, contra o qual também só vejo o remédio que ele preconiza: unidade na acção para fazer o que precisa ser feito, sem ilusões de grandes resultados no plano imediato, mas na certeza de que apenas assim poderemos melhorar a médio e longo prazo.

Tomar a nuvem por Juno

Diz o Miguel que é preciso não confundir as árvores com a floresta. Concordo plenamente: há árvores e árvores, há até florestas e florestas.

Olhemos para esta.

Por entre a mancha verde das fileiras, aqui e ali duas ou três sequóias gigantes avultam por sobre a demais vegetação, umas ainda viçosas e frondosas, outras de tronco recto e imponente, por fora, mas carcomidas pelo bicho, por dentro: são apenas copa e pouco mais, esqueletos de árvores outrora teluricamente enérgicas mas por onde escorre agora a custo a seiva, xilema e floema ancilosados, atacados que estão por excrescências supérfluas.

Quase todas as espécies deste ecossistema competem pelos mesmos recursos – as que o não fazem rapidamente passam a fertilizante das outras. O terreno onde medrar é escasso e há muita planta que escolhe crescer lá onde o solo foi mais remexido e escavado – afinal, para quê desbravar chão novo se já existe terra trabalhada e adubada cabonde? Poucas são as espécies colonizadoras e muitas as oportunistas, cada uma competindo pela luz, engrossando e alongando caules estéreis e esquecendo-se que o fim último da espécie é a frutificação e a disseminação da semente.

O grosso desta fileira é árvore de folha caduca. Vive onde calhou acertar a semente e só pede ao vento que não a abane muito e aos pardais que não lhe façam o ninho por detrás da orelha. Mais abaixo, as herbáceas clamam pelo abate das árvores de folha caduca enquanto que invejam os arbustos contíguos, que armam ao pingarelho e se dão ares de árvore matura e crescida.

Comensais ou parasitas, há amiúde trepadeiras que recobrem em maior ou menor extensão as árvores mais produtivas, vivendo à custa da luz, da humidade e dos nutrientes que estas lhes proporcionam. Por vezes, à tinta do castanho e à processionária juntam-se os fungos saprófitas e os pulgões, pragas que debilitam e matam o tecido vivo, bicharada que mais não faz do que, vivendo do sistema, tentar matar o sistema por dentro.

Por toda a parte abundam as videiras, planta que com pouco esforço ocupa latadas inteiras mas que aqui, nesta floresta, dá muitas vezes muita parra e pouca uva. Ao longe, nas margens deste biótipo, crescem algumas plantas exógenas e alógenas, indivíduos que fogem à norma vegetal, que não fazem a fotossíntese como mandam os manuais ou que procuram outras soluções para a eterna luta pelos nutrientes – marginalizadas pelo coração da floresta, é neste território que crescem as plantas carnívoras e as orquídeas, é aqui, nas margens, que a Natureza inova e se renova.

É também nesta floresta que algumas árvores de folha perene lobrigam os fogos que devastam a biomassa que as rodeia. Esbracejam e esbracejam, com os raminhos a adejar à brisa incendiária que as rodeia mas, sem ajuda, pouco podem fazer: presas à massa que as rodeia, enleadas no visco lorantáceo que aglutina há décadas umas árvores às outras, nerificam-se perante o fogo que avança, paulatino mas inexorável. São fogos malignos estes, que atacam em várias frentes e consomem há muito esta floresta. Umas vezes em fase de rescaldo, outras em braseiro ardente, não há como os ignorar nem esconder. Fazê-lo é deitar a perder toda biomassa existente, a boa e a má.

Infelizmente, para combater estes fogos só há um remédio: um corta-fogo, quiçá até um contra fogo. Há que unir fileiras e fazer o que há que ser feito, com os que estão e não com os que são mas não estão, sem rodriguinhos e sem ilusões, sob pena de olharmos para a floresta e não vermos senão cinzas e carvão.


Paulo Alexandre Monteiro

A parte pelo todo da “Arqueologia portuguesa”

A respeito da Acrópole...
Nunca será demais insistir na necessidade de devolver à sociedade sob a forma de produtos culturais consistentes o que, por via pública ou privada, o país investe em cultura na nossa área específica do conhecimento. Direi mesmo que dificilmente se me poderia pedir para assumir mais ferozmente esta luta por um objectivo sem cuja consecução afirmo que a Arqueologia não ganhará direito de cidade:
"(...) Se falhar nesta produção de resultados científicos a Arqueologia de salvamento dificilmente justificará a sua existência.
Por fim, esta eficácia também se medirá pela capacidade de fomentar a divulgação do património histórico-cultural, nomeadamente através de acções de divulgação pública e da produção de conteúdos para projectos de museografia que traduzam para a sociedade em geral o investimento na preservação daquele património." (extracto do Website Dryas)

Factos acerca de uma floresta:
É um facto que esta dimensão indispensável da Arqueologia, nomeadamente de salvamento, não tem sido cumprida pelas equipas técnicas que operam por esse país fora.
Não é menos evidente que o saldo final entre o investimento em Arqueologia de salvamento e o retorno em produção científica e divulgação cultural é neste sector claramente deficitário.
E que isto resulta directamente de o conjunto da "Arqueologia de salvamento portuguesa" desenvolver apenas um esforço diminuto no sentido de produzir quer ciência, quer cultura.
Estamos de acordo.

Porém, a segunda reflexão que quero trazer aqui respeita a um ponto que venho afirmando repetidamente. Não é menos importante!
Pese embora pense que o diagnóstico dos problemas da Arqueologia nacional seja pouco menos do que evidente, antes de partirmos em busca das soluções para estes problemas, é indispensável assumir duas atitudes que, desgraçadamente(!), parecem não estar inscritas no nosso código genético:
(1) chamar os bois pelos nomes; e
(2) não confundir as árvores com a floresta.

Ou seja, como disse num dos debates da Al-Madan (... ou talvez mesmo em mais do que um!), importa antes de mais nada compreender que a tal "Arqueologia de salvamento portuguesa" não existe fora das nossas cabeças! Trata-se apenas de uma imagem que criamos a partir de um conjunto de impressões mais ou menos correctas (segundo as informações disponíveis) acerca de cada uma das árvores (leia-se: empresas) com que formamos esta nossa imagem mental da dita floresta. Mas esta imagem global consiste apenas em... uma imagem! Não numa realidade, visto que não há qualquer traço comum que una as diferentes empresas que por aqui andam e que são, bem pelo contrário, de uma diversidade extrema (de objectivos, de estrutura, de meios, de qualificação, de ética profissional, etc.).
Apenas para ilustrar esta diversidade face ao panorama geral da falta de investimento na divulgação, junto algumas fotos de intervenções da Dryas com os tais painéis informativos, visitas de escolas, de Universidades, do público em geral, etc. E para que fique claro que isto não é uma publicidade Dryas, incluí também aqui uma imagem de uma escavação da Era, que encontrei rapidamente na Net e que mostra preocupações semelhantes.
De resto, outros exemplos poderiam contar-se aqui.
Lá está: infelizmente não muitos.

Ora, e isto tudo serve para quê?
Para, com o próprio exemplo referido (as escavações sem interacção com a população), mostrar que não chega criticar uma realidade aparente, que mais não é do que uma média de muitas coisas distintas. Importa ir ao detalhe de cada uma das árvores da floresta, ver o que cada uma tem de bom e de mau. E afirmá-lo.
Poderia reproduzir-se exactamente o mesmo raciocínio feito aqui acerca das empresas para os restantes agentes da Arqueologia nacional. As Universidades, por exemplo.
Sejamos claros, se insisto repetidamente nesta tecla é por ter um impacto decisivo sobre o tipo de soluções que procuramos para os problemas diagnosticados: se uma crítica rigorosa da floresta nos permitir identificar práticas positivas, devemos focalizar a nossa acção em criar as condições para que as práticas indutoras de qualidade sejam reproduzidas por todos (dir-se-ia: seleccionadas) e as menos boas erradicadas. E para fazer isto há que discriminar criticamente o que cada um faz, em vez de tomar a parte pelo todo.
É que no estado actual das coisas não há grande incentivo para a qualidade, nem para este tipo de práticas produtoras de ciência, cultura, divulgação, formação, etc.

A acrópole de Lisboa

Do alto do seu saber, o técnico ignora olimpicamente os espectadores e o cano de esgoto rebentado pela máquina. De picareta em riste, avalia os materiais espalhados aos pés e planeia onde desferir o próximo golpe. Os níveis são de aterro, o rio infiltra-se já pelo areão grosso subjacente e, a toda a volta, turistas, locais e transeuntes citadinos, comprimem-se de encontro à rede que rodeia o sítio, uma qualquer rua anódina de Lisboa. De repente, do meio da mole espectadora e expectante, eleva-se uma voz mais douta:

“Isso, aí, se escavar por aí abaixo, vai dar com a acrópole”.


Ora cá está algo novo. Habituado apenas a pescadores à entrada e à saída dos portos e a escavações em meios bem mais encharcados do que o fundo enlameado daquela quadrícula, com os peixes por únicas testemunhas desinteressadas, é com surpresa que constato a basta quantidade de pessoas que param junto à cerca e que ficam a observar, a fotografar, a comentar, a reclamar ou, tão só, a opinar. Mas algo em comum têm estes “mirones” urbanos com os marítimos: se há arqueólogos a escavar é porque há tesouros. Ou, quando não, há necrópoles transvestidas em acrópoles.

O que quase nunca há é um cartaz explicativo, uma planta do sítio, uma declaração de intenções, um guia interpretativo. Quase nunca há algo ou alguém que elucide quem passa ou quem por lá mora do que é que ali se faz, e porque é que se está ali, a “empatar a obra”, a “abrir mais buracos na estrada”, a “estragar os caboucos dos prédios vizinhos”, a “espatifar o dinheiro da Cambra” a abrir buracos que ninguém percebe para que são, se nem moedas de lá saem, quanto mais barras de prata ou sarcófagos em ouro, só cacos velhos e ossos queimados que uns maluquinhos guardam religiosamente em sacos, como se não tivessem algo mais importante que fazer.

Afinal, para quem escavamos nós?

Escavamos para nós ou para a comunidade na qual nos inserimos - bairro, freguesia, concelho, distrito, país? Escrevemos nós (quando escrevemos) para os nossos pares ou para o público em geral? Para que se faz arqueologia em Portugal e para quem? Será irrelevante esta questão?

Paulo Alexandre Monteiro

2008-05-28

Blog wars, parte 2: know your enemy

O desalento geral de que falava na primeira parte destas "Blog wars" resulta evidentemente da soma dos dramas pessoais, vividos à escala de tempo da nossa existência enquanto indivíduos (e, neste caso, enquanto profissionais no activo), ainda que seja clara a evolução (lenta) no sentido de uma protecção progressivamente mais eficaz do património cultural e histórico-arqueológico, que conheceu avanços fundamentais desde a década de 70.
Suficientes para satisfazer os nossos anseios? Claro que não.
Não se trata aqui de um qualquer determinismo (nem risonho, nem fatalista), nem sequer social, mas apenas de observar que a direcção dos movimentos da sociedade não se inverte subitamente, pese embora fosse esse o nosso desejo. Isto não invalida que tais movimentos não se fazem sem agentes activos e que, por isso, devemos assumir publicamente o futuro que queremos para o nosso social. Cada um de nós. Tal é, em teoria, a vantagem decisiva de uma democracia: que cada um possa afirmar o seu desejo de futuro.
Realizada, esta democracia? Mais uma vez, obviamente que não, mas trata-se apenas de outro exemplo dos mesmos incontornáveis dramas pessoais de que sempre se constrói a vitória dos movimentos sociais, políticos, culturais, etc.

Portanto... O que há de novo nesta Arqueologia de 2008?
Não muito, e, como sempre, nada que não estivesse já contido no passado recente.
E no entanto, eis que subitamente nos encontramos todos a discutir o advento supostamente relevante de um blogue, como aqui houvesse uma evolução decisiva.
Não me parece que se justifique!
Não pretendo ser injusto com os autores do dito blogue, que não me custaria incluir na lista dos bem-intencionados, caso lhes conhecesse a identidade, porque no estado actual das coisas, de facto, não posso incluí-los em parte nenhuma, uma vez que eles próprios se auto-excluem da "cidade".
Não obstante, esta intenção de não ser agressivo não deve impedir-me de dizer, sem rastro de perfídia(!), o que penso.

Esta discussão, com antecedentes na lista do Archport, surge-me profundamente desinteressante, a ponto até de me ter retirado da lista do Archport, que recebia desde há anos.
Antes de mais, sou avesso a discussões sem rosto. Por princípio e, agora que o penso, quase por deformação profissional: é esta compreensão profunda de que um objecto desprovido de contexto não tem qualquer valor informativo. Apetece-me dizer que quem se posiciona daquela maneira não percebeu sequer as primeiras lições da ciência-donzela que pretende defender.
Em segundo lugar, o grupo dos profissionais jovens que hoje se revêem numa luta supostamente proletária de recibos verdes é, infelizmente, composto na sua vasta maioria por elementos com muito poucas competências técnicas, nenhumas científicas e ainda menos conhecimento de causa dos problemas da organização da Arqueologia. Esta constatação, que resulta da minha experiência pessoal, também transparece evidente de muitos dos comentários que se fizeram no Archport e no “Nível de bolha”.
Finalmente, o sentido que o dito blogue tomou demonstra a que nível os seus autores e participantes quiseram colocar a bolha. É público e notório que a massa circulante de trabalhadores eventuais que pula alegremente de equipa em equipa actua como agente polinizador de uma certa maledicência que grassa no meio. Sabemo-lo todos: as conversas dos longos dias de trabalho de campo têm uma tendência feroz para versar os horrores cometidos por outras equipas, mais ou menos rivais daquelas em que agora episodicamente(!) nos integramos. É um hábito barbudo que aprendemos de pequeninos, na Escola, quando passávamos das escavações de uns professores para os outros, hábito que conheceu um campo talvez ainda mais fértil nesta nova situação da concorrência entre empresas. Conheci, como todos, imensos exemplos disto: atingiam-se outros colegas, por vezes bons profissionais, e outras empresas, com particular insistência em comentários negativos sobre... as que considero melhores. Paradoxal!
Aprendi desde muito cedo a fechar os ouvidos a estas "denúncias". Haverá por aí mais do que um que possa testemunhar do meu desinteresse nestas conversas, que em certas equipas eventuais mais desprovidas de tino cheguei a proibir veementemente: eram mais as vezes em que os narradores desconheciam os factos, ou nem sequer sabiam interpretá-los do que aquelas em que referiam actos verdadeiramente reprováveis!

Não quer isto dizer que a Arqueologia portuguesa esteja repleta de profissionais de excelente qualidade técnica e inatacável rigor ético. Repito-me, para que fique claro: reputo de muito insuficiente a qualificação técnico-científica dos arqueólogos portugueses, enquanto grupo profissional, e penso que reside nesta insuficiência técnica, mais do que numa desonestidade consciente, a raiz de muitos atentados patrimoniais e actos eticamente reprováveis que se repetem quotidianamente por este país fora. Precisamente porque falha até a mais elementar competência técnica para perceber até a gravidade dos actos praticados.

Porém, estes problemas não podem analisar-se à luz de actos inquisitórios perpetrados por auto-proclamados campeões do património de quem não conhecemos a capacidade de avaliação. Poder-se-ia dizer que o ataque que se fez no blogue "Nível de bolha" aos arqueólogos de uma empresa é inqualificável nos moldes em que se produziu. Sem dúvida! E sê-lo-á sempre ainda que aqueles sejam de facto autores de condutas reprováveis.
Sinto-me bastante desconfortável para discutir este assunto, até porque do que ali se disse nada é claro, nem sequer de que sítio(s) arqueológico(s) se fala. Aliás, até me parece que se fala, com pouco conhecimento de causa(!), de uma mistura de histórias.
Bref... é por demais evidente que esta forma de proceder é sobretudo reveladora das "qualidades" de quem a usa e, indirectamente, da situação a que antes chamei "quarto estado" e sobre a qual o António Valera agora insistiu.
Se o episódio da bolha nos deve reter a atenção é para que aqui se discuta a situação que criou esta enormidade e não para que nos percamos no repúdio de uma forma de agir que obviamente não é muito séria e sobretudo não tem a menor relevância para a discussão.
Eis onde quero chegar.

Na sequência do primeiro dos debates "Arqueologia em revista", o de Lisboa, passei por um fait-divers que então parecia bastante desconexo do mundo real, mas que agora me vem ao espírito em resultado destes últimos "sucessos" da Arqueologia nacional no mundo virtual. Então, houve um outro comentário, que só conheci porque dele fui avisado, noutro blogue (o "Aldeia dos macacos") acerca da reunião. As opiniões emitidas pelo "Repórter Vanguarda do Proletariado" (pseudónimo do bloguista em questão) pareceram-me bastante falhas de acerto, e por isso lhe respondi, assinando, no seu próprio blogue. Em troca recebi uma resposta muito certa: a intenção não era uma discussão séria; aquele blogue é apenas uma "pura diversão", de estilo escape psicanalítico do quotidiano delirante. Ou seja: o meu comentário era descabido naquele contexto, porque embora coincidíssemos num tema, os objectivos da reflexões de cada um eram completamente distintos. Percebi. Seria como querer discutir o assunto num contexto Gato Fedorento!
O "Nível de bolha" é um pouco diferente, na medida em que os autores pretendem actuar sobre a realidade, mas bastante idêntico, na medida em que não conseguem fazê-lo de forma útil.

Neste sentido, penso que este "happening" da Arqueologia portuguesa deve ser aqui discutido, desde logo porque tem o mérito de existir. Porém, penso também que devemos ultrapassar esta dimensão do repúdio do óbvio, para nos centrarmos sobre as duas únicas questões interessantes que o "Nível de bolha" levanta:
1º. Porque é que existem na Arqueologia de hoje pessoas que sentem a necessidade de dizer ESTAS COISAS e DESTA FORMA?
2º. Porque é que este facto nos motiva a nós a necessidade de responder?

Uma e outra são situações bem reveladoras do dito estado a que isto chegou.
Eis o que devemos discutir!

2008-05-27

Mediocridade e irresponsabilidade

Que me desculpem os meus companheiros de blog por este longo desabafo, mas o comentário "impaciente" de PF ajudou a quebrar a minha tentativa de me manter contido. E o dique rompeu.
Há cerca de três anos, a propósito de uns episódios semelhantes aos que hoje vivemos na "ciberarqueologia", escrevi (para os meus botões) o seguinte:

"Perguntaram-me se não me achava arrogante.
Sim, creio que sou, por vezes, arrogante. Mas não da arrogância oriunda da soberba e da altivez. De um narcísico deslumbramento ou de cegueira selectiva. De uma auto avaliação inflacionada. Antes, sou atacado da arrogância nascida do cansaço, da impaciência para com a mediocridade; para com os que dela sofrem, mas teimosamente se mantêm ao seu serviço, quais coelhas descontroladas, gerando e gerando mais medíocres, transformando o país num extensa monocultura de eucaliptos. E, por momentos, o pirómano dentro de mim agita-se.
Não sofro da arrogância da soberba, repito. Como diria Pessoa, não me conseguiria enganar nem à consciência do meu enganar.
Que fazer com estas florestas de medíocres?
Dir-lhes-ia para emigrar, não fora o caso de já me ter pronunciado contra a importação de resíduos tóxicos produzidos por outros países.
A solução incendiária seria pouco democrática; demasiado revolucionária e sangrenta para consciências que se querem moderadas. E os danos colaterais poderiam ser graves e irreparáveis num país e numa área em acelerado desequilíbrio ecológico.
Que fazer com estas florestas de medíocres?
A impaciência que se arroga corre o risco de se transformar em desistência, numa conformação paralizante. De nos fazer virar de vez para o oásis, para os nichos de diversidade ecológica, mais tarde provavelmente circunscritos a reservas pelo poder da praga triunfante. Sim. Atenção! O medíocre tem um fortíssimo instinto de sobrevivência. A sua multiplicação em massa é a sua força e a sua capacidade de resistência. Sozinho é pateticamente vulnerável. Pelo que não descansará perante uma ameaça. A extreminação está inscrita no seu código genético. Resolveria o problema da sua sobrevivência e, simultaneamente, acabaria com aquela arreliante e incómoda pedrinha no sapato, aquela invejazinha pequenina, aquele odiozinho incontrolável, que, nos poucos e breves momentos de consciência que o medíocre tem, o consomem até ao tutano.
A minha arrogância é, pois, ainda um acto de resistência. A minha conformação, essa sim, poderá ser um acto de egoísmo e, simultaneamente, de assistência ao homicídio."
(11-08-2005)

De facto, os últimos dias têm demonstrado, na área da Arqueologia, o total falhanço das políticas de educação, revelando uma crescente mediocridade (atenção, sempre houve), a qual se vem progressivamente apresentando licenciada e, graças às novas tecnologias, com acesso a palcos mediáticos (felizmente ainda não demasiado mediáticos). Mas mais do que nos lamentarmos, há que pedir responsabilidades. Responsabilidades políticas. Mas essas leva-as o vento. Mais próximas de nós, estão as responsabilidades dos nossos colegas que estão no ensino. Como é possível que pessoas com este nível de ignorância e insuficiência ética e intelectual (a imaturidade não explica tudo) possam estar nas universidades e possam delas sair licenciadas? Que certifica hoje um certificado de habilitações? Já sei. As Universidades têm constrangimentos. Mas não podemos aceitar que esses constrangimentos justifiquem tudo. Que, pelos problemas internos que têm, que pelas dificuldades financeiras, a Universidade aceite toda a gente sem ter em conta requisitos básicos e licencie toda a gente, sem ter em conta competências mínimas. E se são obrigados a isso, que o denunciem publicamente e não sejam tão colaboracionistas. Aceitar compreensiva e passivamente essa situação era o mesmo que aceitar que, por dificuldades financeiras uma empresa ou um arqueólogo realize um mau trabalho, não cuide da qualidade científica e técnica do seu trabalho, se desresponsabilize das suas obrigações. Sei que muitos docentes que se recusam a transitar (não sei se aprovar e reprovar ainda se usa nas Universidades, por causa dos traumatismos) alunos por várias vezes, dadas as insuficiências destes, são acusados das maiores barbaridades por isso. Tal como no básico e no secundário, a Universidade está a ser empurrada para o seu próprio abismo.
Mas se a fonte académica não começar a tratar as suas águas, temo bem que sejamos inundados por este tipo de resíduos, progressivamente maioritários, que acabarão por destruir o que, apesar de tudo, se construiu de positivo nas últimas décadas da Arqueologia portuguesa. Claro que não é apenas um problema da Arqueologia, mas geral. Qualquer dia temos um aluno de filosofia a perguntar se alguém por aí já ouviu falar de um tal Platão ou de um qualquer Descartes. O problema transcende a disciplina e obriga a plataformas de entendimento mais vastas para poder ser atacado.
Na Arqueologia, contudo, não penso que o possamos fazer com base numa utópica unidade, pois esta é manifestamente impossível, porque muita desta gente que por aí se intitula de arqueólogo pura e simplesmente não o é (nem tem uma ideia aproximada do que é Arqueologia enquanto ciência social e enquanto profissão, do que é Ciência, do que é Património). Não falamos a mesma linguagem, não temos o mesmo posicionamento sobre a responsabilidade social da disciplina e dos seus profissionais, etc. etc. etc. Gente que não lê (manifestamente não lê), não pára para pensar, não pára para ouvir. Mas acha-se habilitada a falar e a fazer charivaris a torto e a direito. A ignorância é atrevida, de um atrevimento inconsciente, que nem a máxima socrática (provavelmente por desconhecimento) minimiza. É, como afirmava Ortega y Gasset há mais de 60 anos, o lado mais funesto do triunfo das massas (recomendo vivamente a leitura da "Rebelião das Massas" deste filósofo espanhol). A solução passará pela não desistência dos que têm inequívoca capacidade intelectual e ética democrática, mas sem terem ilusões quanto a uma eventual união racional dos espíritos. Sim, não é contradição falar, a propósito deste posicionamento, de democracia. Uma postura democrática exige consciência e conhecimento, para livremente podermos ajuizar, formar opinião e expressá-la em respeito. A ignorância não é livre e não consegue exercer livremente a vivência democrática. Esse era, aliás, um dos argumentos basilares das políticas de generalização da alfabetização, sustentadas no pensamento setecentista de que a liberdade se baseia no uso da razão e que esta necessita de educação e conhecimento. O falhanço do sistema de ensino é o falhanço da democracia e da cidadania portuguesas e não simplesmente da sua economia. É insuportável ouvir políticos a defender a qualificação apenas com o argumento económico e competitivo, esquecendo justificaçoes talvez mais fundamentais. Por mim, estou como PF. Já não há pachorra (um sentimento perigoso, porque desmobilizador, e que nos pode levar à centração no umbigo, como já se nota em algumas cabeças inteligentes da nossa praça arqueológica). Não devemos ser exclusivos, mas não podemos apostar na inclusividade sem critério e sem exigência. Porque será que tanta gente fala da necessidade de se criarem em Portugal Universidades de elite.

António Carlos Valera

Blog wars, prelúdio: o "quarto Estado" da Arqueologia

Desde há alguns anos que se vem progressivamente degradando a confiança dos arqueólogos deste país no futuro (e no presente!) da Arqueologia em Portugal.
Esta situação tem origem imediata na intenção longamente anunciada e recentemente concretizada de concentrar num único instituto as diferentes responsabilidades de tutela dos diferentes sectores do património histórico que antes estavam repartidas pelo IPA, IPPAR e DGEMN.

Claro que o mais grave na fusão que se realizou não é tanto a fusão em si, mas o receio — penso que fundado! — de que por trás deste meio (e dos que abraçaram esta solução como positiva) possam esconder-se interesses que são bem contrários ao progresso que me parece inexorável da preservação do património. Compreenda-se: aquilo a que aqui me refiro como "interesses" não são os maléficos "interesses do capital" dos anos 70, nem sequer os "interesses de empreiteiros ignorantes" de 90.
São apenas interesses sociais, que são legítimos, enquanto anseios de diferentes grupos sociais no quadro de uma sociedade dialógica, como são as nossas de hoje: diferentes grupos sociais que representam ambições antagónicas de diferentes futuros possíveis, frequentemente inconciliáveis.
Contudo, sejam embora legítimos, estes interesses não deixam de ser também aquilo a que noutro momento chamaríamos "a reacção".

E é lícito que continuemos a fazê-lo, pelo menos desde o ponto de vista de um grupo social particular (outra vez, para não nos chamar "classe", coisa que não somos), especialmente porque este grupo se define a si próprio por uma marcada intenção de intervenção na sociedade, à qual nos esforçamos por impor a necessidade (ou deveria dizer: espalhar a boa nova?) do património histórico-cultural.
Se muito nos separa, mesmo no seio da comunidade dos arqueólogos, penso que poderemos aceitar sem grandes polémicas que a maioria, para não dizer a quase totalidade, se move por uma vontade genuína de preservação do património.
Vontade, compreenda-se, não é o mesmo que capacidade, porque se penso que estamos quase todos muito motivados para a tal preservação do património, já não penso que todos estejamos capazes de concretizar esta vontade numa acção profissional que efectivamente realize aquele anseio.

É aqui que reside o tal "quarto Estado" da Arqueologia. A expressão, que não é minha, mas aproveito de uma muito boa amiga, significa simplesmente... "O estado a que isto chegou!".

Ora, dois comentários acerca deste quarto estado da Arqueologia portuguesa:

1º. Que, como frequentemente, estas discussões terminam no beco sem saída de uma formação muito deficiente dos arqueólogos em Portugal; Deficiente em termos de formação teórica, porque as Universidades não têm conseguido garantir (em parte por culpa própria, em parte porque o ambiente não é demasiado propício) uma formação de base suficientemente sólida para a maioria dos seus licenciados; Deficiente em termos de de formação prática, porque entre os diferentes agentes da Arqueologia portuguesa ainda não foi possível construir uma solução de passagem da formação teórica para "fora da escolinha"; Deficiente em termos de formação ética, porque falta uma organização profissional... e esta organização falta porque verdadeiramente ainda não temos formada uma ideia minimamente consensual da Arqueologia que queremos (em consequência das outras deficiências de formação aduzidas);

2º. Que há uma novidade desagradável nesta constatação de que apenas QUASE todos estão genuinamente determinados na protecção do património; É claro que este "quase" surgiu desde que a Arqueologia passou a movimentar somas mais importantes do que escassos subsídios a projectos descontínuos e muito poucos lugares de docência universitária.

Não é menos evidente que esta nova realidade torna ainda mais urgente a solução das deficiências teóricas, práticas e éticas que referi.
E assim... Eis-nos chegados a 2008.

2008-05-26

Falam, Falam… e não fazem nada?

Das últimas mensagens trocadas na Archport, retenho uma afirmação que me deixa sempre “pele de galinha”: “reuniões, debates e coisas afins é importante e muito bonito mas não resolve nada”!
Paradoxalmente, a afirmação surge no contexto de animado diálogo num desses espaços de debate que, aparentemente, “não resolve nada”. Mas nem por isso as pessoas se desmotivam de participar. Será só por vontade de “deitar conversa fora”?

Ora, tenho para mim que, a prazo e numa apreciação global, dificilmente deixaremos de constatar o importante papel que a Archport tem e poderá consolidar na transformação e qualificação da Arqueologia portuguesa, quer pelo desenvolvimento de hábitos de diálogo e troca de pontos de vista, quer pela abordagem e generalização de temáticas de interesse geral (profissionais, éticas, deontológicas…), pela crescente exigência de qualidade nas intervenções (dos conteúdos às formas de expressão), ou ainda pelo envolvimento de leitores e participantes que noutros locais dificilmente o seriam.

Mas o pior é que a ideia de que “falar não resolve nada” é ainda associada a todo o tipo de encontros, colóquios, debates e outros eventos, incluindo os mais recentes (curiosamente, talvez até por alguns dos que há meses, na mesma Archport, clamavam por ninguém organizar um “Congresso da Arqueologia Portuguesa”), sem que se perspectivem correctamente os efeitos que os mesmos induzem.
Mas… consegue-se mudar alguma coisa sem diagnosticar primeiro o que há a mudar e reflectir depois sobre como, quando, para quê, para quem, com quem…, entre outras questões que evitem muita “agitação” sem verdadeira alteração?
Por exemplo, sem o ciclo “A Arqueologia em Revista” e outros eventos recentes, estariam “maduras” como hoje estão as condições para realizar bons encontros nacionais sobre a arqueologia municipal e a arqueologia empresarial, como os que se perspectivam para Setembro (http://www.aparqueologos.org/autarquias.php) e Novembro (http://www.congressoarqueologiaempresarial.org/), respectivamente?
E, depois do muito que se disse e escreveu, olhamos hoje como antes olhávamos para as questões da formação e do acesso à profissão, da organização profissional e institucional, da contratualização e da sociabilização do trabalho arqueológico?
Não serviu de nada?

A falar é que a gente se entende! É preciso é que depois saibamos encontrar formas organizadas de transformar ideias em planos de acção.

2008-05-22

Indiana Jones, em Portugal, teria contrato?

Em Espanha, na sequência de outros protestos e iniciativas, os profissionais de Arqueologia da zona de Madrid decidiram lutar por um “Convenio Laboral” que dignifique a profissão, organizando-se numa AMTTA – Asociación Madrileña de Trabajadores y Trabajadoras en Arqueología, que transforma num movimento colectivo as preocupações individuais quanto ao reconhecimento da categoria profissional, a dignificação das condições de trabalho (segurança e higiene), a melhoria dos salários e o controlo das normas de contratação com as empresas do ramo.
Sob o lema “la arqueología es un trabajo precario” e tendo por base a premissa de que “nuestra mejora laboral beneficia a nuestro patrimonio cultural”, a AMTTA decidiu aproveitar com responsabilidade e originalidade a estreia mundial do novo filme de Indiana Jones, hoje, dia 22 de Maio, e promove uma acção pública com o sugestivo título “Indiana Jones en Madrid no Tendría Convenio”.

Por cá, o sentimento que transparece entre quem está em condições similares é o de que não vale a pena dar forma organizada aos protestos, quer porque se descrê nas possibilidades dessa intervenção colectiva, quer porque parece pensar-se que todas as organizações da área da Arqueologia portuguesa, das associações culturais e profissionais, às universidades, autarquias e empresas, estão “inquinadas” e coligadas num “sistema” de contornos “mafiosos”, onde devemos desconfiar de tudo e de todos, sem que se perspective qualquer tipo de saída positiva para esse estado de coisas.
Pelo contrário, em Portugal é mais prático aproveitar as facilidades do ciberespaço para trilhar a via da “denúncia”, de preferência anónima e próxima da calúnia, pelo menos pela ausência do contraditório dos visados. Cabe perguntar: mesmo que as “denúncias” sejam verdadeiras, que ganhamos com isso? Para além de “ensanguentar” uma discussão que, supostamente, andava “muito branda”, em que é que isso contribui para dar uma imagem positiva e melhorar a situação actual da Arqueologia portuguesa?

Este tema remete-me para a última crónica de Pedro Magalhães, no Público do passado dia 19, a propósito das atitudes e comportamentos dos portugueses, onde este conclui que o que lhes falta não são os conhecimentos académicos ou profissionais, “mas sim as competências cívicas para, quando necessitam, fazerem-se ouvir e defenderem os seus interesses”. Ora, constata o mesmo cronista, um dos sítios onde essas competências poderiam ser adquiridas é o da “vida associativa”, ainda que “a debilidade da participação social em Portugal” impeça, precisamente, a sua disseminação.

Nem mais!

2008-05-13

A Arqueologia em Revista – Conimbriga 3

Terceira e última parte do registo do debate do ciclo “A Arqueologia em Revista” realizado no passado dia 5 de Abril, em Conimbriga, com a intervenção de abertura do Tema 3, “A Arqueologia e a Sociedade”, por Virgílio Hipólito Correia, e o debate subsequente, onde participaram também Fernando Coimbra, Jorge Raposo, António Manuel Silva, Mila Abreu, Maria José Almeida e Luís Raposo.
Inclui-se também a intervenção final, de balanço e encerramento do ciclo, por Jorge Raposo
Como todos os restantes, os vídeos são uma co-produção Centro de Arqueologia de Almada / Instituto Politécnico de Tomar.
Para acelerar o acesso, indicam-se apenas as ligações para visualização directa no YouTube.


1. Virgílio Hipólito Correia

http://br.youtube.com/watch?v=fAPW2QEqksI

– A consciência pública da importância do Património e da Arqueologia em Portugal.
– Património e criação artística contemporânea.

http://br.youtube.com/watch?v=2Sr-4HM6LX8

– Património e regionalização sustentada: meios rurais e urbanos.
– A valorização do trabalho arqueológico: diferenciação, produção de conhecimento e simbolismo do “achado”.

http://br.youtube.com/watch?v=N-WrqDxXzjM

– A valorização do trabalho arqueológico: regionalização, património arqueológico, cultura científica, museus de Arqueologia e mecanismos de afirmação nacional.


2. Debate: Fernando Coimbra, António Manuel Silva e Mila Abreu

http://br.youtube.com/watch?v=FuafX3rucE8

Fernando Coimbra:
– Que fazer para alterar a situação actual da Arqueologia portuguesa? A importância da educação patrimonial e ambiental.
– As novas barragens e a arte rupestre.

António Manuel Silva:
– A Arqueologia, a cultura científica, a regionalização e os ciclos políticos.
– A investigação arqueológica e os municípios.

Mila Abreu:
– A Arqueologia, a sociedade e os arqueólogos.


3. Debate: Jorge Raposo, Maria José Almeida e Virgílio Hipólito Correia

http://br.youtube.com/watch?v=Czxt2p_l0KA

Jorge Raposo:
– A Arqueologia, o Património arqueológico e a sociedade.

Maria José Almeida:
– A Arqueologia, a sociedade e os arqueólogos.

Virgílio Hipólito Correia:
– A percepção social e a planificação da investigação arqueológica em contextos urbanos.


4. Debate: Luís Raposo e Virgílio Hipólito Correia

http://br.youtube.com/watch?v=LaOLqLKLkGg

Luís Raposo:
– A responsabilidade dos arqueólogos na falta de visibilidade social da Arqueologia.
– A Arqueologia, o Ministério da Cultura e a “sociedade civil”.

Virgílio Hipólito Correia:
– A pluralidade dos discursos.


5. Balanço e encerramento do ciclo: Jorge Raposo

http://br.youtube.com/watch?v=qh_36KERHl8

A Arqueologia em Revista – Conimbriga 2

Segunda parte do registo do debate do ciclo “A Arqueologia em Revista” realizado no passado dia 5 de Abril, em Conimbriga, com a intervenção de abertura do Tema 2, “A Arqueologia e os Arqueólogos”, por Maria José Almeida, e o debate subsequente, onde participaram também Fernando Coimbra, Virgílio Hipólito Correia, Pedro Sobral, Luiz Oosterbeek, Mila Abreu e Pilar Reis.
Como todos os restantes, os vídeos são uma co-produção Centro de Arqueologia de Almada / Instituto Politécnico de Tomar.
Para acelerar o acesso, indicam-se apenas as ligações que permitirão visualizar as imagens directamente a partir do YouTube.


1. Maria José Almeida

http://br.youtube.com/watch?v=PZUP6VUZk1E

– A regulação do acesso ao exercício da profissão de arqueólogo e o licenciamento de trabalhos arqueológicos.
– O papel do Estado e a auto-regulação dos profissionais.
– A formação académica e profissional.

http://br.youtube.com/watch?v=bs0mcvqy9Zw

– A formação académica e profissional.
– A organização dos profissionais de Arqueologia: associação, Ordem e sindicato.
– A Arqueologia na sociedade portuguesa.


2. Debate: Fernando Coimbra, Virgílio Hipólito Correia e Pedro Sobral

http://br.youtube.com/watch?v=zeQWKtpFWlA

Fernando Coimbra:
– O debate na Arqueologia portuguesa e a sua integração social.

Virgílio Hipólito Correia:
– A regulação do acesso ao exercício da profissão de arqueólogo e o licenciamento de trabalhos arqueológicos.

Pedro Sobral:
– Condições de trabalho e mercado empresarial na Arqueologia portuguesa: investigação, publicação e fiscalização.


3. Debate: Luiz Oosterbeek e Virgílio Hipólito Correia

http://br.youtube.com/watch?v=HRSs2DqA05Q

Luiz Oosterbeek:
– A regulação do acesso ao exercício da profissão de arqueólogo e o licenciamento de trabalhos arqueológicos.
– A privatização da actividade arqueológica e o mercado internacional.
– A organização da formação académica em Arqueologia e a sua ligação a outras áreas do saber.

Virgílio Hipólito Correia:
– A fiscalização da actividade arqueológica.


4. Debate: Maria José Almeida

http://br.youtube.com/watch?v=gdkkos4Wz1I

– O licenciamento e a avaliação da qualidade dos trabalhos arqueológicos.
– O papel do Estado e a auto-regulação profissional: a acção da Associação Profissional de Arqueólogos.


5. Debate: Mila Abreu

http://br.youtube.com/watch?v=h24TlPe8XMs

– A profissionalização da Arqueologia no contexto do mercado europeu.
– As condições de exercício da Arqueologia empresarial.
– A Arqueologia na sociedade portuguesa.


6. Debate: Pilar Reis e Luiz Oosterbeek

http://br.youtube.com/watch?v=LNguuryQWMA

Pilar Reis:
– Os arqueólogos e as condições de exercício da Arqueologia empresarial.
– A formação académica e o contexto de trabalho dos arqueólogos.
– O financiamento da investigação arqueológica.
– O papel da APA e a credibilidade do trabalho arqueológico.

Luiz Oosterbeek:
– O financiamento da investigação arqueológica.

A Arqueologia em Revista – Conimbriga 1

Registo do debate que encerrou o ciclo “A Arqueologia em Revista”, no passado dia 5 de Abril, no Museu Monográfico de Conimbriga, com a introdução, por Jorge Raposo, e a intervenção que abriu o Tema 1, “A Arqueologia e o Poder”, da responsabilidade de Luiz Oosterbeek, a que se seguiu um debate onde participaram também Maria José Almeida, Cristiane Buco, Mila Abreu, Jorge Raposo, Virgílio Hipólito Correia e Fernando Coimbra.
Como todos os restantes, os vídeos são uma co-produção Centro de Arqueologia de Almada / Instituto Politécnico de Tomar.
Para evitar o acesso lento na abertura deste blogue, são aqui colocadas apenas as ligações que permitirão visualizar as imagens directamente a partir do YouTube.


1. Introdução (Jorge Raposo – CAA / Al-Madan)

http://br.youtube.com/watch?v=b8NAomBNp8c


2. Luiz Oosterbeek

http://br.youtube.com/watch?v=DlIEnhFpC_c

– A imagem pública e o debate democrático na Arqueologia portuguesa.
– As perplexidades dos profissionais de Arqueologia.
– A Arqueologia e o poder dos arqueólogos.
– A organização institucional da Arqueologia.
– O acesso à profissão e o papel dos amadores.

http://br.youtube.com/watch?v=aYrGSbuICzw

– O papel do Estado, o crescimento da Arqueologia e a formação dos arqueólogos.
– A organização institucional da Arqueologia e o conflito de interesses entre os profissionais de Arqueologia.
– Pragmatismo e praxis profissional.

http://br.youtube.com/watch?v=hAok7wR5SRI

– Estudos de impacte ambiental e educação patrimonial.
– A necessidade de uma rede nacional de recursos arqueológicos: investigação e ensino.
– A Ordem de arqueólogos.


3. Debate: Maria José Almeida e Cristiane Buco

http://br.youtube.com/watch?v=VzSmVfv5UzM

Maria José Almeida:
– Os profissionais e os amadores de Arqueologia.

Cristiane Buco:
– Arqueologia, educação patrimonial e património arqueológico no Brasil.
– Legislação e intercâmbio internacional.


4. Debate: Mila Abreu e Jorge Raposo

http://br.youtube.com/watch?v=EP4ECCpGZWI

Mila Abreu:
– Arqueologia, Património e educação patrimonial no Brasil.
– Os profissionais e os amadores de Arqueologia em Inglaterra.

Jorge Raposo:
– Arqueologia, poder e sociedade.
– Educação patrimonial em Inglaterra e em Portugal.
– Visibilidade social da Arqueologia: qualificação profissional e intervenção cívica.


5. Debate: Luiz Oosterbeek e Maria José Almeida

http://br.youtube.com/watch?v=9Fm5gwimCfw

Luiz Oosterbeek:
– Arqueologia, Património arqueológico e acção cívica.
– As condições de exercício profissional em Arqueologia e a integração dos amadores.

Maria José Almeida:
– Educação patrimonial em Inglaterra e em Portugal.
– A legislação portuguesa e o contexto internacional.


6. Debate: Virgílio Hipólito Correia, Fernando Coimbra e Luiz Oosterbeek

http://br.youtube.com/watch?v=_QNrzo0ZVwE

Virgílio Hipólito Correia:
– O direito de cidadania e o exercício do poder político.
– A reorganização institucional do Ministério da Cultura.
– Os “poderes fácticos” e a organização dos profissionais de Arqueologia.

Fernando Coimbra:
– A Arqueologia e o conhecimento do passado.

Luiz Oosterbeek:
– O “modelo inglês” e a privatização da actividade arqueológica.
– O poder político, o processo do Côa e os arqueólogos.

2008-05-11

Assumir responsabilidades... na primeira pessoa

Numa das minhas anteriores participações neste blogue dizia que aquilo que mais precisamos é que cada um assuma as suas responsabilidades, pessoais e institucionais. E que todos, como classe profissional, as assumamos também.
O debate que a Al-Madan promoveu teve assinalável êxito (pela mobilização alcançada e pela civilidade em que decorreu). Ponto final.
Glosando alguém, poderíamos dizer: falamos, falamos… mas não fazemos nada.
A Maria José Almeida, ao fazer o relato que faz da última AG da APA, disse tudo quanto à desmobilização existente e que chega a ser desmoralizadora.
Seria fácil acusar os mais jovens, que realmente, do ponto de vista profissional, deveriam ser os mais interessados em lutar por melhores condições de vida, que julgo serem também melhores políticas patrimoniais.
Outros que o façam e talvez com razão. Pelo meu lado, sinto que pessoas como eu têm especiais responsabilidades, porque, bem ou mal, quer dizer por circunstâncias geracionais favoráveis ou por mérito próprio (deixarei a outros a avaliação, tendo a presunção de pensar que ambos os factores contaram) ocupamos hoje posições de relevo tanto no plano da comunidade arqueológica como no plano das instituições do Estado.
Acontece que são hoje poucos os que, com as responsabilidades sociais que eu tenho, dão realmente a cara e vão à luta, como se dizia no PREC. Estão (estamos ?) cansados e só pensam (pensamos ?) na reforma. Quanto muito falam (falamos ?) em corredores, mas não actuam (actuamos ?) consequentemente.
E isto reduz extraordinariamente a possibilidade de a arqueologia se afirmar socialmente e perante o Poder (repare-se que digo “o Poder” e não "a tutela”, porque a arqueologia não tem tutelas, nem a palavra tutela me parece civicamente recomendável).
As interrogações dos parêntesis anteriores incomodam-me bastante. Não me sinto preparado para viver uma reforma antecipada, estando no activo. E sobretudo não me sinto nada, mesmo nada, preparado para me reformar civicamente.
Assim, entendi em Março que devia aceitar o desafio para assumir novas responsabilidades associativas numa organização mais englobante, a partir da qual perspectivava já a possibilidade de trabalhar no sentido do alargamento das plataformas comuns de acção.
Candidatei-me e fui eleito para Presidente do ICOM Portugal, numa lista que incluia o trabalho inter-associativo como uma das suas prioridades.
Posso agora dizer que o ICOM Portugal acaba de dirigir convites às principais organizações representativas de profissionais que trabalham no sector património cultural (incluindo obviamente a APA) para uma primeira reunião inter-associativa a ter lugar ainda em Maio. Nessa reunião iremos tentar acertar agendas e constituir uma plataforma comum, dotada de um secretariado permanente. Desejaríamos promover, nesse quadro e no horizonte de um ano, um 1º Encontro Nacional dos Profissionais do Património Cultural.
Paralelamente a nós, ICOM Portugal, verifiquei com satisfação que também os nossos colegas do ICOMOS Portugal, incluindo arqueólogos, tomaram posição publica quanto à situação caótica em que está o aparelho do Ministério da Cultura na área do património cultural e especificamente da arqueologia.
Usando os métodos da análise marxista, creio que existem condições objectivas para que se construam plataformas comuns de acção; basta que se proporcionem também as condições subjectivas. O meu contributo vai neste sentido.
Não seria possível fazer algo idêntico no âmbito da arqueologia, para aprofundamento dos problemas específicos no nosso sector ? O que falta ? Talvez apenas que pessoas concretas com responsabilidades associativas tomem a iniciativa.
Pessoas concretas, repito. É que há-de parecer estranho, porventura narcísico, o uso tão recorrente da primeira pessoa do singular neste texto. Em boa verdade, também a mim me estranha. Mas há horas em que assumir responsabilidades é falar na primeira pessoa do singular.

2008-05-01

Frango-tipo-leitão

Este post serve de resposta ao comentário do Paulo. Na verdade, também poderia ter chamado a isto “Para que serve uma Universidade?”, porque a politecnização da Universidade — que, concordo, também penso que será um dos primeiros (maus) efeitos de Bolonha… Se é que não será mesmo uma sua décimo-segundarização! — não me parece um desafio, mas um risco grave.

O passo seguinte será fazer emergir da "mole" das universidades-tipo-politécnico umas poucas eleitas. Enfim, ninguém inventa nada e estas soluções já estão vistas há muito noutras paragens, mesmo sem a pompa e circunstância do "processo de Bolonha".

Paradoxalmente, o resultado mais provável é que se mantenha a mesma divisão entre Politécnicos (i. é: Instituições de ensino superior COM carácter profissionalizante; os actuais Institutos Politécnicos, a que se juntarão nesse futuro mais ou menos próximo a maioria das Universidades) e verdadeiras Universidades (i. é: Instituições de ensino superior SEM carácter profissionalizante, e por isso com outro tipo de objectivos e preocupações; a que hoje chamamos Universidades, mas no tal futuro da "Europa de Bolonha" serão apenas uma parte destas, pelo que teremos que inventar-lhes outro nome — pessoalmente, já se vê, aposto em “grandes écoles”).

Poderia até tratar-se apenas de chutar a bola para canto a fim de ganhar algum tempo e recuperar a tranquilidade para resolver o verdadeiro problema da Universidade actual: que fazer para garantir a qualidade de um ensino (1) massificado e (2) em contexto de profunda contracção orçamental.

Então... Porque não gosto da solução?
Isto é, para além de, por princípio, ser avesso a chutar os problemas para canto.
Bom, por uma avaliação de riscos: à chegada desta Universidade-politécnica-de-Bolonha o que teremos ganho e perdido?

Perdemos democracia no acesso aos graus superiores do ensino, porque objectivamente, a população estudante das "grandes écoles" não reproduz a totalidade do espectro social. Ali não há "pobres"! Preocupa-me porque assim se acentua o desequilíbrio socio-económico.

Perdemos (continuaremos a perder!) investimento na formação (diferente de profissionalização), acantonada nas tais escolas de eleição, que terão mais meios por aluno, mas muito menos alunos do que a actual Universidade massificada e, por isso, menos volume bruto de investimento.
Já agora, temos uma ideia de quem serão estes poucos alunos? É conhecido, por exemplo, o caso paradigmático da classe política dirigente francesa cujos elementos (independentemente do partido a que pertençam) provêm em larga maioria de um mesmo curso parisiense de ciência política... Preocupa-me porque assim se reduz a diversidade societária!

Obviamente, também perdemos investimento público em investigação, não menos acantonada nos tais "pólos de excelência"... Soa-vos? É uma ideia antiga, já nos acenavam com isto nos idos do início da década de 90, quando começou o desinvestimento estrutural no ensino superior, à pala da sacrossanta autonomia universitária.
Só que "ojo"! Esta perda de investimento é tanto mais grave quanto nos movemos num país sem uma estrutura global dedicada à investigação com a pujança de um CNRS ou de um CSIC (emanados de Estados em que o investimento na investigação científica, se não é aposta fundamental no futuro, é pelo menos parte da afirmação nacional no presente) e onde (por isso e pela incipiência do mercado e da iniciativa privada) a Universidade se vê forçada a sustentar quase exclusivamente a olímpica chama da investigação.

Em suma: por mais molho que leve em cima, frango nunca será leitão. Nem o frango deve querer ser leitão. Arrisca-se é a deixar de ser um frango em condições... Ao mesmo tempo que arrasa o leitão de qualidade.
Eis o risco! Que seria muito mau, porque o bonito da vida é poder escolher.

Falta ainda uma outra parte da resposta ao Paulo. Chamar-lhe-ei “Acerca de uma acreditação profissional feita pelas Universidades…”, ou qualquer outra coisa do género.
Mas antes, gostaria de ouvir a opinião dos outros (e particularmente do Prof. Fabião, por ser um adepto de Bolonha e sobretudo por conhecer o “processo” por dentro e muito melhor do que eu) acerca destas questões relacionadas com o papel da Universidade e com o acesso à categoria profissional (de arqueólogo) na dita “Europa de Bolonha”.