2008-05-27

Blog wars, prelúdio: o "quarto Estado" da Arqueologia

Desde há alguns anos que se vem progressivamente degradando a confiança dos arqueólogos deste país no futuro (e no presente!) da Arqueologia em Portugal.
Esta situação tem origem imediata na intenção longamente anunciada e recentemente concretizada de concentrar num único instituto as diferentes responsabilidades de tutela dos diferentes sectores do património histórico que antes estavam repartidas pelo IPA, IPPAR e DGEMN.

Claro que o mais grave na fusão que se realizou não é tanto a fusão em si, mas o receio — penso que fundado! — de que por trás deste meio (e dos que abraçaram esta solução como positiva) possam esconder-se interesses que são bem contrários ao progresso que me parece inexorável da preservação do património. Compreenda-se: aquilo a que aqui me refiro como "interesses" não são os maléficos "interesses do capital" dos anos 70, nem sequer os "interesses de empreiteiros ignorantes" de 90.
São apenas interesses sociais, que são legítimos, enquanto anseios de diferentes grupos sociais no quadro de uma sociedade dialógica, como são as nossas de hoje: diferentes grupos sociais que representam ambições antagónicas de diferentes futuros possíveis, frequentemente inconciliáveis.
Contudo, sejam embora legítimos, estes interesses não deixam de ser também aquilo a que noutro momento chamaríamos "a reacção".

E é lícito que continuemos a fazê-lo, pelo menos desde o ponto de vista de um grupo social particular (outra vez, para não nos chamar "classe", coisa que não somos), especialmente porque este grupo se define a si próprio por uma marcada intenção de intervenção na sociedade, à qual nos esforçamos por impor a necessidade (ou deveria dizer: espalhar a boa nova?) do património histórico-cultural.
Se muito nos separa, mesmo no seio da comunidade dos arqueólogos, penso que poderemos aceitar sem grandes polémicas que a maioria, para não dizer a quase totalidade, se move por uma vontade genuína de preservação do património.
Vontade, compreenda-se, não é o mesmo que capacidade, porque se penso que estamos quase todos muito motivados para a tal preservação do património, já não penso que todos estejamos capazes de concretizar esta vontade numa acção profissional que efectivamente realize aquele anseio.

É aqui que reside o tal "quarto Estado" da Arqueologia. A expressão, que não é minha, mas aproveito de uma muito boa amiga, significa simplesmente... "O estado a que isto chegou!".

Ora, dois comentários acerca deste quarto estado da Arqueologia portuguesa:

1º. Que, como frequentemente, estas discussões terminam no beco sem saída de uma formação muito deficiente dos arqueólogos em Portugal; Deficiente em termos de formação teórica, porque as Universidades não têm conseguido garantir (em parte por culpa própria, em parte porque o ambiente não é demasiado propício) uma formação de base suficientemente sólida para a maioria dos seus licenciados; Deficiente em termos de de formação prática, porque entre os diferentes agentes da Arqueologia portuguesa ainda não foi possível construir uma solução de passagem da formação teórica para "fora da escolinha"; Deficiente em termos de formação ética, porque falta uma organização profissional... e esta organização falta porque verdadeiramente ainda não temos formada uma ideia minimamente consensual da Arqueologia que queremos (em consequência das outras deficiências de formação aduzidas);

2º. Que há uma novidade desagradável nesta constatação de que apenas QUASE todos estão genuinamente determinados na protecção do património; É claro que este "quase" surgiu desde que a Arqueologia passou a movimentar somas mais importantes do que escassos subsídios a projectos descontínuos e muito poucos lugares de docência universitária.

Não é menos evidente que esta nova realidade torna ainda mais urgente a solução das deficiências teóricas, práticas e éticas que referi.
E assim... Eis-nos chegados a 2008.

1 comentário:

Anónimo disse...

Outra vez a mesma conversa, o meu amigo esforça-se na escolha das imagens (à quem diga um pouco infantil)....ao menos isso