2008-05-11

Assumir responsabilidades... na primeira pessoa

Numa das minhas anteriores participações neste blogue dizia que aquilo que mais precisamos é que cada um assuma as suas responsabilidades, pessoais e institucionais. E que todos, como classe profissional, as assumamos também.
O debate que a Al-Madan promoveu teve assinalável êxito (pela mobilização alcançada e pela civilidade em que decorreu). Ponto final.
Glosando alguém, poderíamos dizer: falamos, falamos… mas não fazemos nada.
A Maria José Almeida, ao fazer o relato que faz da última AG da APA, disse tudo quanto à desmobilização existente e que chega a ser desmoralizadora.
Seria fácil acusar os mais jovens, que realmente, do ponto de vista profissional, deveriam ser os mais interessados em lutar por melhores condições de vida, que julgo serem também melhores políticas patrimoniais.
Outros que o façam e talvez com razão. Pelo meu lado, sinto que pessoas como eu têm especiais responsabilidades, porque, bem ou mal, quer dizer por circunstâncias geracionais favoráveis ou por mérito próprio (deixarei a outros a avaliação, tendo a presunção de pensar que ambos os factores contaram) ocupamos hoje posições de relevo tanto no plano da comunidade arqueológica como no plano das instituições do Estado.
Acontece que são hoje poucos os que, com as responsabilidades sociais que eu tenho, dão realmente a cara e vão à luta, como se dizia no PREC. Estão (estamos ?) cansados e só pensam (pensamos ?) na reforma. Quanto muito falam (falamos ?) em corredores, mas não actuam (actuamos ?) consequentemente.
E isto reduz extraordinariamente a possibilidade de a arqueologia se afirmar socialmente e perante o Poder (repare-se que digo “o Poder” e não "a tutela”, porque a arqueologia não tem tutelas, nem a palavra tutela me parece civicamente recomendável).
As interrogações dos parêntesis anteriores incomodam-me bastante. Não me sinto preparado para viver uma reforma antecipada, estando no activo. E sobretudo não me sinto nada, mesmo nada, preparado para me reformar civicamente.
Assim, entendi em Março que devia aceitar o desafio para assumir novas responsabilidades associativas numa organização mais englobante, a partir da qual perspectivava já a possibilidade de trabalhar no sentido do alargamento das plataformas comuns de acção.
Candidatei-me e fui eleito para Presidente do ICOM Portugal, numa lista que incluia o trabalho inter-associativo como uma das suas prioridades.
Posso agora dizer que o ICOM Portugal acaba de dirigir convites às principais organizações representativas de profissionais que trabalham no sector património cultural (incluindo obviamente a APA) para uma primeira reunião inter-associativa a ter lugar ainda em Maio. Nessa reunião iremos tentar acertar agendas e constituir uma plataforma comum, dotada de um secretariado permanente. Desejaríamos promover, nesse quadro e no horizonte de um ano, um 1º Encontro Nacional dos Profissionais do Património Cultural.
Paralelamente a nós, ICOM Portugal, verifiquei com satisfação que também os nossos colegas do ICOMOS Portugal, incluindo arqueólogos, tomaram posição publica quanto à situação caótica em que está o aparelho do Ministério da Cultura na área do património cultural e especificamente da arqueologia.
Usando os métodos da análise marxista, creio que existem condições objectivas para que se construam plataformas comuns de acção; basta que se proporcionem também as condições subjectivas. O meu contributo vai neste sentido.
Não seria possível fazer algo idêntico no âmbito da arqueologia, para aprofundamento dos problemas específicos no nosso sector ? O que falta ? Talvez apenas que pessoas concretas com responsabilidades associativas tomem a iniciativa.
Pessoas concretas, repito. É que há-de parecer estranho, porventura narcísico, o uso tão recorrente da primeira pessoa do singular neste texto. Em boa verdade, também a mim me estranha. Mas há horas em que assumir responsabilidades é falar na primeira pessoa do singular.

1 comentário:

JR disse...

Logo no encerramento do último debate do ciclo "A Arqueologia em Revista", num primeiro balanço, tive oportunidade de afirmar que o Centro de Arqueologia de Almada tiraria as necessárias ilações desse projecto, assumiria as suas responsabilidades e daria continuidade, no seu campo de intervenção, ao desafio ao envolvimento individual e colectivo.
A seu tempo serão divulgados os resultados dos contactos encetados logo após o debate de Conimbriga, onde, como noutras ocasiões, tomámos a iniciativa de apresentar propostas concretas a pessoas e entidades concretas.